Uma tonelada de papéis picados foram doados pela Seção Judiciária do Espírito Santo na tarde de terça-feira, 14/3, à Associação dos Catadores de Materiais Recicláveis da Ilha de Vitória (Amariv), localizada nas proximidades do Sambão do Povo, na região de Santo Antônio. Antes dessa leva, já haviam sido doadas 102 caixas de 8,2 quilos de papeis (836, 4 quilos) e há ainda uma sala cheia de sacolas de documentos picados para serem eliminadas.
Os papéis são oriundos dos trabalhos da gestão de autos findos realizados pela Seção de Arquivo e Depósito Judicial da Divisão de Apoio Judiciário (Seard/DAJ), que analisa cada documento dos processos e seleciona o que é de guarda permanente e o que pode ser descartado.
A equipe hoje é formada por Sueli Maria da Silveira (supervisora), Márcia Lopes Gomes Fanelli, Cosme Luís dos Santos e Sâmela de Laia Balan, duas estagiárias de nível superior e dois estagiários de nível médio, que ajudam na encadernação das peças principais dos processos, após a análise e seleção dos documentos feitas pelos servidores.
A seleção é feita com base na Resolução nº 714/2021, do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), que dispõe sobre o Programa de Gestão Documental e Memória da Justiça Federal de 1º e 2º graus. Processos anteriores a 1973, por exemplo, devem ser guardados na íntegra, inclusive as capas, para compor a memória institucional da Justiça. Já os papeis descartados são doados a associações de catadores cadastradas pela Seccional – uma ação que, além de desocupar espaço físico, beneficia a sociedade, o meio ambiente e a vida de inúmeras famílias.
Amariv
A Amariv é uma das quatro associações de catadores de Vitória, ao lado da Recicla Capixaba, Amarv e Ascamares – que também já recebeu doações da SJES. Desde sua fundação, em 2007, acolhe moradores e catadores de rua, mulheres e pessoas em situação de vulnerabilidade social, oferecendo oportunidades para uma vida mais digna e estável.
Os resíduos chegam à associação em grandes sacos. Após serem acomodados na fila de processamento, seguem para a mesa de triagem, onde os catadores fazem a separação entre plástico, papel, metal e outros tipos de resíduos. Há ainda subdivisões, como diferentes qualidades de papel – papel branco, papelão, papel colorido e tetra pak, utilizado em caixas de leite – e vários tipos de plástico, separados de acordo com a cor e a composição química.
Após a separação, o conteúdo segue para a prensa. A compactação facilita o transporte até as indústrias de reciclagem, permitindo a acomodação de mais material em menos espaço no caminhão.
Dignidade
A mineira Ana Lucia Oliveira dos Santos, 50 anos, é a atual presidente da cooperativa, de onde há 15 anos tira o sustento de sete filhos – cinco biológicos e dois adotivos. Quatro deles trabalham lá com ela: Lucio, 27 anos, Ângela, 26, Ana Maria, 23, e Sebastião, 20. “Vim por necessidade, mas agora amo. Sou apaixonada por esse trabalho. Quando a gente aprende a importância da reciclagem e tudo o que rodeia – sustentabilidade, meio ambiente, vidas – não tem como não se apaixonar”, declara, orgulhosa.
Antes da associação, Lucia catava material reciclável com carroça nas ruas. “Agora a situação é outra. A cooperativa dá uma segurança, uma visibilidade melhor pra gente. Respeito, dignidade…”
A presidente conta de sua alegria ao ver moradores de rua recuperarem a dignidade perdida ao entrar na associação: “Ninguém dá nada por eles. Depois daqui, conseguem moradia, a vida vai mudando, a visão vai mudando. Tem sonho, tem profissão, expectativa de melhoria de emprego”.
Gabriel Luís Vianna, de 33 anos, é uma prova disso. Já precisou morar em abrigos e teve muita dificuldade de conseguir trabalho. Até que descobriu a Amariv e, hoje, graças a sua atividade na associação, pode se orgulhar de ter casa mobiliada, carro e uma vida digna com sua família. “É muito bacana trabalhar aqui. Conquistei muitas coisas, tirei minha habilitação, consegui fazer vários cursos”, comemora o associado. Hoje é ele quem dirige o caminhão que faz o transporte dos materiais para os centros de reciclagem.
Tem algo para descartar?
Além de papéis, papelão e plástico, a Amariv também recebe vidro, sucata, alumínio, resto de obra, geladeira, fogão, máquina de lavar e eletrodomésticos em geral. “Muito associado chega aqui sem nada e a gente dá [esses equipamentos] pra eles”, comenta a presidente Ana Lucia.
Atualmente, 16 pessoas trabalham na Amariv – 10 mulheres e 6 homens. Uma tonelada de papel gera em torno de R$ 700 de renda. Toda a produção é dividida igualmente entre eles. “Por menos que seja, é uma situação bem melhor pra gente”.
A Associação dos Catadores de Materiais Recicláveis da Ilha de Vitória (Amariv) fica na Rua Elvira Zilio – Mário Cypreste, Vitória/ES.
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